No acumulado em 12 meses, taxa subiu para 10,54%. Alta no mês foi generalizada, mas puxada pelo aumento das mensalidades escolares e alimentos; preço da cenoura disparou 55,41%.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial do país, acelerou para 1,01% em fevereiro, após ter registrado taxa de 0,54% em janeiro, segundo divulgou nesta sexta-feira (11) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Trata-se da maior variação para um mês de fevereiro desde 2015 (1,22%) e da maior taxa mensal desde outubro do ano passado (1,25%), mesmo sem contar o reajuste nos combustíveis anunciado nesta quinta-feira pela Petrobras.
Em 12 meses, o IPCA acumula alta de 10,54%, acelerando frente aos 12 meses até janeiro (10,38%), se mantendo acima do dobro do teto da meta para o ano.
O resultado veio um pouco acima do esperado. Pesquisa da Reuters apontou que a expectativa de analistas era de alta de 0,95% em fevereiro, acumulando em 12 meses alta de 10,50%.
Todos os grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta em fevereiro, mas os principais impactos vieram dos preços dos grupos Educação (5,61%) e Alimentação e Bebidas (1,28%). Juntos, os dois grupos representaram cerca de 57% da inflação de fevereiro.
Veja a inflação de fevereiro para cada um dos grupos pesquisados
Alimentação e bebidas: 1,28%
Habitação: 0,54%
Artigos de residência: 1,76%
Vestuário: 0,88%
Transportes: 0,46%
Saúde e cuidados pessoais: 0,47%
Despesas pessoais: 0,64%
Educação: 5,61%
Comunicação: 0,29%
A inflação foi também mais disseminada em fevereiro do que em janeiro. O índice de difusão passou de 73% para 75%. O indicador reflete o espalhamento da alta de preços entre os 377 produtos e serviços pesquisados pelo IBGE.
Todos os locais pesquisados tiveram alta de preços, sendo a maior taxa registrada em São Luís (1,35%) e a menor na região metropolitana de Porto Alegre.
Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que calcula a inflação para famílias de baixa renda e é usado como referência para reajustes salariais, subiu 1% em fevereiro, acima do percentual de 0,67% de janeiro, acumulando alta de 10,8% nos últimos 12 meses.
O que mais subiu
No grupo Educação, o maior impacto na inflação do mês veio dos cursos regulares (6,67%), com destaque para o ensino fundamental (8,06%), a pré-escola (7,67%) e o ensino médio (7,53%). Os preços dos cursos de ensino superior e de pós-graduação subiram 5,82% e 2,79%, respectivamente. Os cursos diversos, por sua vez, tiveram alta de 3,91%, sendo que o maior aumento foi verificado nos cursos de idioma (7,29%).
Com a alta dos custos de Educação, a inflação média dos serviços que vinha apresentando uma trajetória descolada acelerou para 1,36% em fevereiro, atingindo 5,94% em 12 meses, a maior variação desde abril de 2017.
Já a inflação dos preços do grupo de Alimentação e Bebidas foi pressionada pela alta mais intensa dos alimentos para consumo no domicílio (1,65%), com destaque para itens como batata-inglesa (23,49%), cenoura (55,41%), hortaliças e verduras (15,42%) e frutas (3,55%). Por outro lado, houve queda nos preços do frango inteiro (-2,29%) e do frango em pedaços (-1,35%).
“Em fevereiro, o grupo de alimentação sofreu impactos dos excessos de chuvas e também de estiagens que prejudicaram a produção em diversas regiões de cultivo no Brasil”, destacou Kislanov.
Os preços dos automóveis novos (1,68%) subiram pelo 18º mês consecutivo, acumulando alta de 18,49% em 12 meses. Os preços dos automóveis usados (1,51% no mês e 16,97% em 12 meses) e das motocicletas (1,72% em fevereiro e 15,61% em 12 meses) também seguiram em trajetória de alta.
Entre os Artigos de residência, pesaram as altas de eletrodomésticos e equipamentos (3,18%) e de mobiliário (2,43%). Nos últimos 12 meses, os itens acumulam variações de 17,85% e 18,31%, respectivamente.
Diesel acumula alta de 40,54% em 12 meses
No grupo Transportes, os combustíveis (-0,92%) se destacaram com queda pelo terceiro mês consecutivo, sendo a mais acentuada a do etanol (-5,04%). Já o preço da gasolina recuou 0,47% em fevereiro. Por outro lado, foram verificadas altas nos preços do óleo diesel (1,65%) e do gás veicular (2,77%).
Vale lembrar, porém, que nesta quinta-feira (10), a Petrobras anunciou reajuste de 18,8% no preço da gasolina nas refinarias e de 24,9% no valor do diesel, o que deve manter sob pressão o IPCA de março. O último reajuste tinha sido feito em 11 de janeiro.
"Quando se tem uma alta no diesel e na gasolina, isso acaba tendo um efeito disseminado na economia como um todo, afetando transporte e frete, e também de outros setores, e isso acaba gerando uma alta de preços em vários produtos e serviços que compõem o IPCA. Mas a magnitude desse impacto vamos ter que aguardar os próximos meses para ver", destacou o pesquisador do IBGE, acrescentando que os combustíveis tem um peso de 7,73% na composição do índice de inflação do país.
Para tentar conter a alta, o Senado aprovou na véspera projeto que cria uma conta de estabilização para os preços dos combustíveis, que ainda será analisada pela Câmara dos Deputados. Já a Câmara aprovou na madrugada desta sexta proposta que altera as normas de cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre os combustíveis e a medida irá à sanção do presidente Jair Bolsonaro.
Projeção e meta para o ano
Apesar da queda do dólar nas últimas semanas, os preços mais altos das commodities em meio à guerra na Ucrânia e o novo aumento nos preços dos combustíveis no país pressionam para um quadro inflacionário ainda pouco confortável.
Em 2021, a inflação oficial foi de 10,06%, sendo a maior alta desde 2015.
A média das expectativas do mercado para a inflação fechada de 2022 está em 5,65%, mas vários analistas já projetam um IPCA acima de 6% no ano. Com isso, a tendência é de estouro do teto do sistema de metas pelo segundo ano seguido.
A meta central para o IPCA deste ano é de 3,50% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar entre 2% e 5%. O objetivo foi fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-lo, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia, que está atualmente em 10,75% ao ano. A projeção do mercado é de Selic em 12,25% ao ano ao fim 2022.
Para 2023, os economistas estimam em 3,51% a taxa de inflação. Para o próximo ano, a meta foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.
Darlan Alvarenga, G1, 11/mar