terça-feira, 23 de maio de 2017

Cassino da Urca renasce aos poucos


As luzes da ribalta do palco onde brilharam estrelas como Carmen Miranda e Dalva de Oliveira serão acesas outra vez. O Istituto Europeo di Design (IED) Rio anuncia que, em outubro, dará início às obras de revitalização do prédio que abrigava o Cassino da Urca: o imóvel, localizado no número 13 da Avenida João Luís Alves, será ocupado pelo Centro Latino-Americano de Inovação em Design, que terá um teatro. A estimativa é que a empreitada dure um ano e meio, mas, à medida que etapas do projeto forem concluídas, serão inauguradas.

- O teatro deve ficar pronto de seis a oito meses após o início das obras e será logo aberto ao público, para a realização de peças, shows, exposições e desfiles. Paralelamente, seguiremos com a obra do laboratório de inovação, que dará aos makers (arquitetos, designers e profissionais da área criativa em geral) a possibilidade de produzir tecidos, protótipos, maquetes. A previsão de conclusão é 2019 - afirma Fabio Palma, diretor do IED, que abriga cursos de graduação e pós-graduação em campos da economia criativa, como design estratégico, moda, comunicação visual e urbanismo sustentável.

A etapa "zero" do projeto começou em junho do ano passado, quando o IED deu início à limpeza do prédio do teatro, tomado por lixo e entulho. Seis semanas depois - período no qual resíduos encheram cinco caçambas de caminhão -, o espaço, um esqueleto de tijolos aparentes que conserva o desenho original do casarão, estava apto a receber visitas: já abrigou duas peças de teatro e vai hospedar, a partir de sábado, a exposição "Ambientes infláveis", dos artistas Hugo Richard e Natali Tubenchlak.

- E, em outubro, antes do início das obras, teremos uma ópera lírica multimídia da Jocy de Oliveira aberta ao público - adianta Palma.

Segundo o diretor do IED, o novo empreendimento "será o primeiro prédio sustentável tombado do Brasil (pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade)": terá painéis solares, geradores eólicos, aproveitamento geotérmico - para diminuir a necessidade do uso de ar-condicionado -, além de reutilização total da água da chuva. A obra custará R$ 27 milhões.

- Fomos autorizados pelo Ministério da Cultura a captar até R$ 21 milhões pela Lei Rouanet. Apresentamos o projeto ao BNDES, e ele foi formalmente acolhido. Em julho, deveremos ter uma resposta - afirma Fabio.

RESISTÊNCIA DE MORADORES

Em 2006, a prefeitura cedeu ao IED por 25 anos, renováveis por mais 25, o prédio do antigo Cassino da Urca, que já abrigou o Hotel Balneário e a TV Tupi. Em 2014, após R$ 14 milhões serem investidos em revitalização, a parte do imóvel voltada para a praia foi inaugurada, com salas de aula (hoje são cerca de 600 alunos), laboratórios criativos, espaço para exposições e uma cafeteria.

- A contrapartida do IED era a reforma integral do prédio, conservação e manutenção, para transformá-lo num espaço privado e, ao mesmo tempo, público. Temos um programa de concessão de bolsas e oferecemos atividades gratuitas - observa o diretor.

Mas ainda há uma grande polêmica entre o IED e os moradores da Urca, preocupados com o impacto da atração no bairro.

- Fiz um projeto para desestimular o uso de carros e consegui que a prefeitura e o Itaú instalassem uma estação do Bike Rio. Para os 15% dos usuários do IED que vêm de carro, há convênio com o estacionamento da Igreja Santa Teresinha e van para traslado - assegura Fabio.

A Associação de Moradores da Urca (Amour) resiste à ideia.

- Na Urca não cabe mais teatro, as ruas são muito estreitas, o trânsito engarrafa facilmente. É um bairro que não aguenta esse impacto - afirma Cida Ferreira, presidente da Amour, que entrou com uma ação contra a cessão de uso do terreno.



O Globo, Natália Boere, 23/mai