quinta-feira, 25 de maio de 2017

Goldman Sachs vê risco de o país sofrer uma nova recessão


A manutenção da incerteza política ampla e de longa duração seria "altamente corrosiva" para os preços dos ativos e para a economia do Brasil, informou ontem o banco americano Goldman Sachs em relatório. Entre as consequências macroeconômicas, a instituição cita o risco de interrupção da recuperação econômica e, no extremo, haver o que chamam de "recessão em W", quando a economia sofre duas quedas bruscas entremeadas por um período breve de recuperação.

"A perspectiva para atividade real se tornou muito mais incerta e com forte inclinação a um crescimento mais fraco do que o previsto em nosso atual cenário-base", alertou o banco. "Nossa expectativa de crescimento real modesto de 0,6% do PIB para 2017 se baseia na hipótese de uma atividade real mais firme durante o segundo semestre, mas pode ser seriamente comprometida pelos desdobramentos recentes".

O Goldmand Sachs vê ainda risco de rebaixamentos da nota de crédito do Brasil, alerta similar ao já feito pelas agências de classificação de risco Fitch e Moody's. O banco aponta ainda para a possibilidade de uma política fiscal mais frouxa que, ao lado de um câmbio depreciado, provavelmente iria tornar o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central um pouco mais conservador. Ainda assim, a autarquia tem margem, no curto prazo, para cortar a taxa básica de juros (Selic), mas o Goldman Sachs "não vê espaço para o Copom acelerar o ritmo de cortes da taxa".

"É imperativo que as atuais questões políticas se resolvam rapidamente, mas, como argumentado acima, isso não deve ser o resultado mais provável", avalia a instituição financeira.

Mesmo no caso da eleição de um novo presidente para o restante do mandato presidencial, as condições de governabilidade ainda poderiam ser limitadas até que uma nova administração entre em janeiro de 2019.

Portanto, apenas se o governo avançar na direção de reformas, demonstrando que preservou a governabilidade e tem capital político no Parlamento, mantendo o cronograma de apreciação das medidas no Congresso parecido com inicial, será sinal muito bem vindo e positivo, diz Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do banco:

- O mercado não se preocupa com quem ocupa cadeira de presidente, mas com capacidade de avançar com agenda de reforma.



O Globo, 25/mai