Há quase um ano, a Praça Nossa Senhora da Paz voltava a respirar. Os tapumes do metrô foram retirados, e o espaço de lazer, transformado em canteiro de obras durante quatro anos, recebia um público que andava afastado, inclusive do seu entorno. As ruas ali andavam mais escuras e tristes, e o medo de caminhar naquele quadrilátero era real. Agora, pode-se dizer que a praça também recupera a sua paz. Os embates sobre o seu fechamento e as perdas do comércio local são passado, e o que se vê naquele pedaço de Ipanema é um processo de renascimento com a chegada de novos negócios. A reinauguração da boate Hippopotamus na Barão da Torre é prevista para o mês que vem, mas há outras novidades.
Na vizinhança do lendário Hippo, está em obra o imóvel que abrigará uma unidade do Talho Capixaba, misto de padaria, delicatessen e açougue que fazia muito ipanemense ir ao Leblon. Há menos de duas semanas, na Maria Quitéria, mais uma aposta na praça foi inaugurada: o Nosso, bar moderninho inspirado nas casas que bombam em Botafogo, com drinks criativos e comidinhas servidas em pratos de plástico na cobertura (ou puxadinho). De volta à Barão da Torre, chegando à Rua Joana Angélica, a Pici Trattoria, aberta há oito meses, tem fila na porta, no almoço e no jantar.
No tradicional Itahy, o papo nas mesas é que os tempos difíceis já passaram.
- Durante as obras do metrô, ninguém mais aparecia aqui na rua à noite. Depois que a praça abriu, o consumo aumentou. Tivemos uma queda de 30% no movimento com a obra, mas já voltamos ao que era antes - diz um dos gerentes do Itahy, Antonio Lima de Paiva.
E tem empresário sonhando alto por lá. Omar Catito Peres, sócio de Ricardo Amaral no Hippo e dono da Fiorentina e do Bar Lagoa, diz que a renovação da praça é um movimento sem volta:
- A revitalização da praça não só vai atrair investimentos como representará uma conciliação com o passado - comenta Catito sobre a Nossa Senhora da Paz, palco nos anos de 1970 e 1980 das famosas festas no Hippo repletas de famosos. - A praça faz parte da alma do ipanemense, tem tudo para virar um point como a Dias Ferreira, no Leblon.
E o projeto de arquitetura do Hippo, que funcionará como clube privé, num investimento de R$ 6 milhões, contará com uma charutaria no terraço, voltado para a paisagem verde da praça.
Mas nem tudo são flores no quadrilátero.
- Parte das árvores que enxertaram na praça está morrendo, e muitas pessoas que vêm fazer piquenique acabam deixando para trás a sujeira, sem falar dos moradores de rua - reclamava a servidora federal Lorena Moroni enquanto brincava com o neto, Francisco, de 2 anos, na tarde de quinta-feira.
Presidente da Associação de Moradores de Ipanema, Maria Amélia Loureiro é outra que se queixa de moradores de rua na praça:
- As pessoas que frequentam a Nossa Senhora da Paz estão com medo.
A Secretaria municipal de Assistência Social afirma que vem intensificando o trabalho de abordagem a moradores de rua, sempre com a participação de assistentes sociais. Nas contas do órgão, nos três primeiros meses foram 12.500 abordagens, contra 8 mil no mesmo período do ano passado. O órgão diz que hoje há 15 mil moradores de rua em toda a cidade, sendo que a maioria está no Centro. Nos finais de semana, porém, parte dessa população migra para a Zona Sul.
BAR COM PEGADA INFORMAL
Do lado de fora dos portões, o Nosso, que tem no bar um mixologista (ou barman para os antigos) e uma turma hipster na equipe, tenta atrair de homens de terno a meninas de biquíni e chinelos com uma pegada informal.
- Se eu abrisse o Nosso em Botafogo, seria mais um. Aqui, é um desafio a mais - afirma Rodrigo Vasconcellos, dono com a mulher, Daniela, do novo negócio. - Apesar de ter nascido em São Paulo, estou há 40 anos no Rio e me considero carioca. E sempre vivendo nesse entorno de Ipanema. Para mim, o bairro tinha ficado um pouco para trás em relação ao Leblon, e eu olhava para a confusão que foi a obra do metrô acreditando que depois a praça renasceria de alguma maneira. A praça, em todo o mundo, é sempre um lugar de encontro, e há toda uma vida gerada no entorno dela.
Hoje a estação Nossa Senhora da Paz leva e traz também quem busca naquele lugar um pouco de calma. Sócio com o pai, Alberto dos Santos Abrantes, do Talho Capixaba, Luís Alberto de Almeida Abrantes trocou a ideia de uma filial na Barra pelo endereço onde funcionou a boate Baronneti. É lá, de cara para a praça, que ele irá vender seus pães artesanais quentinhos:
- Falei: "Poxa, pai, por que você não abre em Ipanema? Recebemos tantos clientes do bairro nos finais de semana". Na Barra, a gente não poderia acompanhar o negócio corpo a corpo com o cliente, por causa do trânsito. Quando surgiu esse ponto em frente à praça degradada por causa das obras do metrô, enxerguei ali um futuro. É um lugar sossegado, com movimento de bairro. É tudo o que a gente gosta e valoriza.