quinta-feira, 20 de agosto de 2020

IPOs de imóveis podem fazer em 2020 mais que em toda a história: R$ 20 bi


O setor imobiliário mudou muito em 15 anos. Surgiram empresas que não existiam e muitas ficaram pelo caminho. O que não mudou tanto assim, pelo visto, são os investidores. O segundo semestre vai ser o teste. Conforme o EXAME In apurou, há 20 empresas que planejam captar dinheiro com ofertas iniciais (IPO) na B3. Se todas tiverem sucesso, terão movimentado 20 bilhões de reais com suas operações. O que as empresas de 2020 pretendem levantar é mais do que todas as ofertas de ações realizadas no setor, entre IPOs e ofertas subsequentes, em todos os anos desde que o segmento estreou na bolsa com a listagem da Cyrela, em 2005.

De lá para cá, até o fim de 2019, as vendas de ações movimentaram 19,8 bilhões de reais - 12,8 bilhões de reais em ofertas iniciais. Houve uma febre de IPOs do ramo até 2007. A última a chegar, mas já depois de as operações terem secado, foi a Direcional Engenharia, há mais de dez anos.

A overdose foi tanta que a B3 ficou uma década sem um único IPO de uma companhia imobiliária. No ano passado, as já listadas voltaram a captar e levantaram 2,9 bilhões de reais - o que mostrou que o apetite do mercado pelo segmento tinha ressurgido. O setor ficou oito anos sem qualquer atividade na bolsa.

No total, da Cyrela até a Direcional, 22 companhias chegaram na bolsa entre 2005 e 2009. Se todas que tiverem plano agora conseguirem, 2020 fará literalmente cinco anos de euforia em um só.  Antes de a pandemia do coronavírus se espalhar pelo Brasil, duas novatas estrearam, a Mitre e Moura Dubeux.

Ontem, começou o período de reserva para as ações da Lavvi, uma investida da Cyrela para o setor de alta renda e luxo. A oferta pode movimentar cerca de 1,6 bilhão de reais. A precificação está prevista para dia 31 e a estreia no pregão, para 2 de setembro. Na visão dos potenciais compradores, é um dos melhores ativos do ano para vir, junto com dois outros do mesmo grupo, as empresas dedicadas ao segmento econômico Plano & Plano e a Cury.

A Cyrela, mais uma vez, marca presença e momento quando o tema é timing de mercado. A companhia de Elie Horn abriu as portas do mercado para o setor e agora percebeu primeiro a oportunidade de mercado para seus ativos. Depois dela, outras companhias já têm um IPO "para chamar de seu". A Even quer trazer a Melnick Even, a EZTec pediu registro para a EZ Inc. Incorporações Comerciais, e a MRV planeja listar sua empreitada no ramo de loteamento, a Urba. "Todo mundo quer mostrar que tem valor escondido", comentou um gestor de renda variável. Na avaliação dele, as companhias estão certas de aproveitarem o momento para tentar captar - a opinião é praticamente unânime - e cabe ao investidor ficar atento onde vai colocar o dinheiro.

Por isso, há muitas dúvidas sobre quanto o mercado vai de fato absorver da lista que se acumula na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) desde antes da pandemia e que mais do que sucesso já teve dois planos fracassados - Ravi e You Inc. Ambas desistiram de acessar a bolsa em 2020.

Entre as companhias que sumiram consolidadas em outras ou por desespero e necessidade ou por serem ativos interessantes, estão nomes conhecidos como Abyara, Klabin Segall, Brascan Residencial, Company. Outras literalmente quebraram, como foi o caso da antiga Inpar, hoje Viver, que levantou 1 bilhão de reais em duas ofertas e também a PDG Realty, um projeto de megacompanhia com obras espalhadas pelo país que chegou a ser a queridinha do setor, o ícone da euforia. A fez duas ofertas na bolsa, que movimentaram 2 bilhões de reais.

A quarta-feira acordou com uma notícia que ainda é rescaldo da euforia de uma década. A Gafisa, que nunca se recuperou, propôs, de forma muito genérica e ampla, o início de um diálogo para combinação com a Tecnisa. Ambas estão distante de seus melhores momentos.



Exame online, Graziella Valenti, 20/ago