terça-feira, 25 de agosto de 2020

Vendas a distância: um método paliativo que vai virar definitivo


A pandemia forçou o tradicional mercado imobiliário a se reinventar e, com estandes e corretoras fechadas, focar em vendas a distância. Agora, o caminho da venda dos imóveis na planta não voltará mais ao modelo analógico. De acordo com uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Incorporadoras (Abrainc), 90,48% das construtoras pretendem manter o modelo de vendas online.

Segundo dados da associação, as vendas de imóveis novos tiveram alta de 2,7% em maio na comparação com o mesmo período no ano passado. Além da facilidade do modelo on-line, Paulo Porto, professor da FGV, salienta que as taxas de juros estão em um patamar muito baixo (Selic a 2%), e os bancos estão abertos a fornecer crédito para a compra de imóveis. Tudo isso cria um cenário favorável para as compras. Segundo dados da Abecip, foram liberados em junho R$ 9,27 bilhões, volume que torna o mês o mais aquecido desde janeiro de 2015.

"Para quem tem emprego e/ou uma renda fixa, a compra de imóveis está sendo mais rentável do que outros investimentos. E para quem não tem todo o dinheiro do imóvel, as taxas de crédito imobiliário estão muito baixas", salienta.

De acordo com o presidente da Abrainc, Luiz França, as vendas digitais aconteceram tanto no mercado do programa Minha Casa Minha Vida quanto nos de médio e alto padrão. Segundo a associação, os empreendimentos MCMV fecharam maio com aumento de 19,5% nas vendas.

A construtora MRV, por exemplo, lançou a plataforma digital de vendas em janeiro somente para Belo Horizonte. Com o avanço do coronavírus, acelerou o processo e expandiu o acesso para as mais de 160 cidades. O cliente pode simular o crédito, negociar a proposta e fazer a assinatura do contrato digital.

"No segundo trimestre, foram 11.479 unidades vendidas, 37,4% a mais do que o mesmo período de 2019", explica Leonardo Tocci, diretor comercial da MRV no Rio.

Antes da pandemia, a Martinelli Imóveis já fazia alguns atendimentos online, mas a compra efetivamente era fechada presencialmente.

"Tivemos que nos adaptar, oferecendo a possibilidade de fechar a compra 100% a distância graças à assinatura digital. O modelo funcionou muito bem tanto para quem mora no Brasil quanto para brasileiros no exterior", afirma o diretor André Moreira.

A Novolar, do Grupo Patrimar, também implementou a assinatura de contratos online. Assim, o processo de venda pode ser praticamente todo virtual. Na semana passada, a mesma empresa lançou o Villaggio Florença, empreendimento do Minha Casa Minha Vida nas faixas 1,5 e 2, em Santa Cruz.

"O cliente tem a possibilidade de entrar no site, conhecer o empreendimento completo (áreas comuns e apartamentos) por meio do tour virtual e receber atendimento pelo WhatsApp do início do relacionamento até a venda. Temos inúmeros clientes que compraram neste período sem sequer visitarem fisicamente o estande de vendas ou o apartamento decorado" explica Lucas Couto, diretor comercial e de marketing da Patrimar.



O Globo, Ana Carolina Diniz, 23/ago