IPCA somou 12% em doze meses na prévia de junho, conforme divulgação do IBGE. Em evento em Lisboa, Roberto Campos Neto também afirmou que países preferiram redução de tributos e transferência aos vulneráveis para conter efeitos da alta da energia e combustíveis.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avaliou nesta segunda-feira (27) que o "pior momento" da inflação no Brasil já passou.
A declaração foi dada durante o X Fórum Jurídico de Lisboa, promovido pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) e pela Fundação Getulio Vargas.
"A gente ainda tem no Brasil um componente de aceleração de inflação. Os últimos dois números foram, acho que pela primeira vez, dentro da expectativa", declarou.
Ele se referiu à divulgação do IPCA, considerado a inflação oficial do país, de maio, quando o índice desacelerou para 0,47%, e também a prévia de junho, quando o indicador ficou em 0,69%. Em doze meses, a alta foi de 12,04%, abaixo dos 12,20% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores.
Na semana passada, por meio da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC estimou uma inflação de 8,8% para 2022, de 4% para 2023 e de 2,7% para 2024. Com isso, projetou um estouro da meta de inflação pelo segundo ano seguido em 2022. No ano passado, o IPCA somou 10,06%, o maior desde 2015.
Em Lisboa, Campos Neto também observou que há algumas medidas "desenhadas pelo governo" que terão impacto na inflação, como as mudanças nos preços dos combustíveis.
Segundo analistas, ao baixar tributos neste ano, e elevá-los em 2023, as alterações nos impostos pressionam os preços em 2023 - o que pode levar a um novo descumprimento da meta. "A gente precisa entender o efeito no processo inflacionário, ainda não está claro", declarou.
Alta dos juros
O presidente do Banco Central também afirmou que, enquanto as outras nações estão em claro processo de elevação dos juros para conter a inflação, o Brasil "já está muito perto de ter feito o trabalho todo".
"O Brasil fez o processo [de subir os juros] antecipado. Acreditamos que a nossa ferramenta é capaz de frear esse processo inflacionário, e vai frear esse processo inflacionário. E a gente acha que grande parte do trabalho já foi feito", disse Campos Neto.
Recentemente, o BC subiu a taxa Selic para 13,25% ao ano. Foi o décimo primeiro aumento seguido na taxa básica de juros da economia, que atingiu o maior patamar desde dezembro de 2016.
A instituição também indicou, na semana passada, que que “antevê” um novo aumento na taxa Selic em sua próxima reunião, no início de agosto, de igual ou menor magnitude. Com isso, sinaliza uma alta de 0,5 ponto percentual, ou menos.
Alexandro Martello, G1, 27/jun