quarta-feira, 15 de junho de 2022

Setor público deixa de ser maior contratante de obras de infraestrutura no país, diz IBGE

Em 2020, setor privado alcançou sua maior participação nas obras de construção realizadas no país.

A indústria da construção no Brasil sofreu mudanças estruturais na última década, apontam dados divulgados nesta quarta-feira (15) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alteração mais expressiva foi a perda de participação do setor público no segmento de infraestrutura.

Os dados são de 2020 e fazem parte da Pesquisa Anual da Indústria da Construção, que chega à sua 30ª edição. Segundo o levantamento, o setor privado alcançou, naquele ano, sua maior participação no setor como um todo, respondendo por 70,2% de toda as obras realizadas no país – em 2011, esse percentual era de 61,5%.

O setor privado ganhou participação nos três segmentos da construção, sendo o avanço mais expressivo na comparação com 2011 foi observado no segmento de infraestrutra – passou de 42,1% para 50%.

Ou seja, em dez anos o setor público perdeu 7,9 pontos percentuais (p.p.) de participação no segmento de infraestrutura, deixando de ser o seu maior contratante.

Setor público e privado responderam, em 2020, por metade, cada um, das obras de infraestrutura no país. Até então, somente em 2015, quando o país estava tomado de obras em razão das olimpíadas, as empresas privadas haviam superado o governo na contratação de obras de infraestrutura.

O setor privado ganhou participação, também, nos outros dois segmentos do setor, o de Construção de edifícios (passou de 75,6% em 2011 para 82% em 2020) e o de Serviços especializados para construção (passou de 78% para 79,4% no período).

“Historicamente, Construção de Edifícios e Serviços especializados para a construção são mais focados no setor privado, e o setor público é mais presente em obras de infraestrutura, mas, mesmo neste segmento, o setor privado tem crescido em participação”, apontou o analista da pesquisa, Marcelo Miranda.

Outra mudança estrutural observada no setor ao longo da última década ocorreu na chamada concentração de mercado. Em 2011, as oito maiores empresas da construção representavam 11,0% do total do setor, enquanto em 2020 passaram a responder por 4,8%, uma redução de 6,2 p.p.

A redução da concentração de mercado foi observada nos segmentos de infraestrutura – recuou de 25,3% para 10% - e de construção de edifícios – caiu de 8,7% para 7%. Já o segmento de Serviços especializados para construção apresentou um aumento da concentração, passando de 4,7% para 7,2%.

Pouco impacto negativo da pandemia

Ao comparar os resultados da indústria da construção de 2020 com os de 2019, observa-se que o setor passou a ter mais empresas e a ocupar mais trabalhadores. Esses dados evidenciam que o setor não sofreu tantos prejuízos quanto o setor de serviços, por exemplo, que levou tombo histórico naquele ano.

“Apesar dos efeitos gerais negativos da pandemia, o setor de construção teve um desempenho diverso. Decretos federais, estaduais e municipais incluíram a construção no rol de atividades essenciais, possibilitando a continuidade das obras durante a pandemia. Políticas públicas de estímulo à economia e de subsídios para a manutenção de empregos podem ter minimizado os efeitos da crise”, resume Miranda.

A indústria da construção chegou ao final de 2020 com cerca de 131,8 mil empresas ativas, aproximadamente 6,7 mil a mais que em 2019 – em relação a 2019, o que corresponde a um aumento de 5,3%,3%. Na comparação com 2011, o número de empresas ativas aumentou em 41,2%.

Cerca de 2 milhões de pessoas trabalhavam na construção em 2020, aproximadamente 71,8 mil a mais que no ano anterior, o que corresponde a um aumento de 3,8% no período.

Dentre os três segmentos do setor, o de infraestrutura foi o que registrou maior aumento percentual na ocupação (10,9%) na comparação com 2019, enquanto de construção de edifícios, por sua vez, viu o número de ocupados crescer 4,9%. Já o segmento de serviços especializados da construção registrou queda de 3,3% no número de pessoal ocupado.

Ainda na análise entre os três segmentos do setor, o de infraestrutura foi o que mais pagou em volume de salários, respondendo por 37,1% do total, enquanto a fatia de Construção de edifícios ficou em 32,3%. Já a remuneração dos Serviços especializados para construção ficou com 30,6%.

Nível salarial é o menor da série

A despeito do aumento do número de empresas e de trabalhadores ocupados, o setor de construção registrou, em 2020, o nível salarial mais baixo da série histórica da pesquisa.

Entre 2019 e 2020, o salário médio mensal da indústria da Construção passou de 2,3 para 2,2 salários mínimos. Obras de infraestrutura teve a maior remuneração (2,6 s.m.); enquanto Construção de edifícios e Serviços especializados para construção pagaram 2,0 s.m., em média, em 2020.

“O ano de 2020 teve os menores salários da série histórica”, enfatizou o analista da pesquisa.

Dados Regionais

A região Sudeste continua sendo a principal em número de pessoal ocupado e em valor de incorporações, obras e/ou serviços.

“Por unidade da federação, de 2011 a 2020, o principal destaque é Rondônia cuja participação caiu de 27,6% para 6,9%, devido ao fim das obras das grandes hidroelétricas do Rio Madeira. Já Pará (de 33.9% para 52,3%) e Amazonas (de 19,7% para 23,9%) ganham participação”, ressalta Miranda.

Na Região Nordeste, o destaque foi a perda de participação de Pernambuco, de 25,7% para 16,0%. No Sudeste, São Paulo continua sendo a principal UF, com participação de 55,5%, que se manteve estável.

“Mas houve uma perda forte de participação do Rio de Janeiro, que deixou de ser o segundo maior estado da região, caindo de 21,6% para 14,6% e perdendo a posição para Minas Gerais (25,6%)”, completou o pesquisador.

Na Região Sul, não houve mudança estrutural; enquanto no Centro-Oeste, houve perda de participação de Brasília, de 32,9% para 26,9%, e ganhos de participação de 15,6% para 22,7% em Mato Grosso e de 35,9% para 37,4% em Goiás.

Daniel Silveira, G1, 15/jun