Presidente do BC disse ver com bons olhos pacote fiscal apresentado pelo Ministério da Fazenda. Ele também avaliou ser possível 'casar' responsabilidade com gastos na área social.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira (14) que é preciso ter "um pouco mais de boa vontade" com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em evento com investidores promovido pelo BTG Pactual, Campos Neto citou o pacote fiscal apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Ele também mencionou a intenção do governo de definir uma nova regra para as contas públicas nos próximos meses – em substituição ao teto de gastos (que limita as despesas à inflação do ano anterior).
Ele também disse que é importante ter um debate sobre o atual patamar da taxa de juros. Em 13,75% ao ano, a Selic é a maior em seis anos.
E se mostrou disposto a esclarecer o papel do Banco Central na fixação dos juros básicos da economia para conter a inflação. Disse ainda que o BC é uma instituição do Estado brasileiro, que deve auxiliar o debate prestando informações técnicas.
Nesta segunda-feira (13), Campos Neto já tinha afirmado que a instituição "não gosta de juros altos", negou atuação política à frente do BC e afirmou ser contra alterar meta da inflação.
Segundo o blog da jornalista Ana Flor, da GloboNews, sinais enviados de parte a parte indicam um movimento de reaproximação e uma "bandeira branca" estendida entre o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Já a jornalista Míriam Leitão avaliou que Campos Neto "usou tom conciliador" na entrevista concedida na segunda-feira, quando negou atuação política à frente do Banco Central.
Nas últimas semanas, o presidente Lula e integrantes do PT têm feito duras críticas ao Banco Central, a Campos Neto e à política conduzida pelo Comitê de Política Monetária da instituição – órgão responsável por fixar a taxa básica de juros da economia.
Piora na percepção do mercado
Campos Neto observou que houve uma piora de expectativa no mercado em relação ao final do ano passado, quando as instituições financeiras previam início do corte de juros em junho deste ano.
Ele avaliou que um prêmio de risco foi incorporado à curva de juros no mercado futuro por conta das últimas tensões, ou seja, o mercado financeiro passou a prever que os juros, que estão com a Selic em 13,75%, fiquem altos por mais tempo.
Após críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à autonomia do BC, citando uma possível mudança na meta de inflação, o mercado financeiro passou a prever que início da queda do juro básico será somente no final do mês de outubro de 2023.
Responsabilidade fiscal com gastos sociais
Nesta terça-feira, o presidente do BC também afirmou que é possível aumentar os gastos sociais e ter, ao mesmo tempo, responsabilidade com as contas públicas.
"Acho que dá pra fazer um fiscal responsável com social, dá pra casar. Tem de ter uma priorização de gastos, uma avaliação dos programas existentes", disse Campos Neto.
Nesta segunda-feira (12), a ministra do Planejamento, Simone Tebet, fez avaliação semelhante. Ela declarou que o déficit atualmente previsto para as contas públicas em 2023, de R$ 231 bilhões, é "insustentável" e que, diante disso, o país precisa reavaliar políticas públicas e evitar gastos desnecessários.
Desde a transição, com o aumento de gastos por meio da PEC para recompor o orçamento, o governo eleito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido cobrado pelo mercado financeiro sobre medidas para evitar o aumento da dívida pública.
A dívida bruta do setor público brasileiro, que chegou a 87,6% do PIB em 2020 durante a pandemia, recuou para 73,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em dezembro do ano passado. O endividamento brasileiro ainda está mais alto que a média dos países emergentes, que é de 72% do PIB.
A equipe econômica indicou que buscará estabilizar o endividamento nos próximos anos. E que buscará reformar a economia para conseguir o grau de investimento, um "selo de bom pagador" — o que teria efeito benéfico sobre a taxa de juros do mercado.
Alexandro Martello, G1, 14/fev