quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Haddad diz que revisão da meta de inflação não está na pauta do CMN

Ministro da Fazenda falou com jornalistas na portaria do ministério. Possibilidade de revisão da meta circulou nos últimos dias entre apoiadores do governo Lula.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira (14) que a revisão da meta de inflação não está na pauta do Conselho Monetário Nacional (CMN).

"Não está [na pauta]. Existe uma coisa chamada pré-Comoc, que define a pauta do CMN. Não está na pauta", afirmou Haddad para jornalistas na portaria do Ministério da Fazenda.

A meta de inflação é definida pelo CMN, que atualmente é formado pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad (que também preside o conselho),, do Planejamento, Simone Tebet, e pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

A primeira reunião do CMN sob o governo Lula está prevista para esta quinta-feira (16) à tarde.

Apesar do ministro afirmar que o assunto não está na pauta, o regime interno do CMN prevê que o presidente do conselho (no caso, o Haddad) pode aprovar a inclusão de itens extrapauta "quando revestidos de caráter de urgência, relevante interesse ou de natureza sigilosa".

Cada conselheiro tem direito a um voto e as decisões são tomadas por maioria simples.

Nesta segunda (13), em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Campos Neto disse ser contra a alteração da meta. Segundo ele, a alteração pode surtir o efeito contrário ao desejado. Ou seja, mais inflação e mais juros.

Debate antecipado

O decreto que criou o regime de metas determina que o alvo seja definido até o dia 30 de junho, com três anos de antecedência.

Ou seja, em 2023, o governo precisa definir a meta de 2026 e teria até junho para fazê-lo.

O assunto, porém, foi antecipado em meio às críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à autonomia do BC, à atual meta de inflação e o patamar da taxa de juros.

A meta de 2023 é de 3,25%, podendo oscilar 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. A projeção do mercado financeiro, porém, indica que a inflação vai fechar o ano em 5,79% - sinalizando o terceiro ano seguido de estouro da meta.

Diante desse cenário, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu, no início desse mês, manter a Selic em 13,75% ao ano - fazendo com que o Brasil permanecesse no topo do ranking global de juros reais (descontada a inflação).

Já para 2024 e 2025, a meta está fixada em 3%, também podendo oscilar 1,5 ponto.

Mudança de meta

Caso decida alterar metas já fixadas, o governo terá de editar um decreto autorizando a mudança

Foi assim em 2002 e 2003 - os únicos anos em que metas já definidas foram alteradas.

Em 2022, a alteração foi viabilizada por meio de decreto editado por Fernando Henrique Cardoso. Já em 2003, via decreto editado por Lula.

Entenda o sistema de metas de inflação

O sistema de metas de inflação foi instituído em 1999, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com o objetivo de dar maior segurança à economia.

É um compromisso que o governo assume de que não deixará a inflação fugir do controle.

No atual regime, cabe ao Banco Central perseguir a meta estipulada por meio da Selic, que é a taxa básica de juros da economia.

Quando os juros sobem, o crédito fica mais caro, restringindo consumo, investimento e o crescimento do PIB - e, assim, controlando a inflação.

Ana Paula Castro e Bianca Lima, TV Globo e G1, 15/fev