sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Quem quer dinheiro?


Reunido com grandes nomes da economia brasileira em evento na Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo, na segunda-feira 11, o ministro do Planejamento, Dyogo de Oliveira, tomou o palco para anunciar uma notícia esperada por todos: a pior crise econômica já enfrentada pelo Brasil é coisa do passado. "Claramente, a grande recessão acabou", afirmou o ministro, ressalvando que a recuperação terá "um caráter muito particular", diante da perspectiva de que ela será lenta "do ponto de vista econômico e fiscal". Entre os fatores que ajudam a retomada está o crédito, cuja concessão vem crescendo ao longo do ano, graças à queda dos juros, da inflação e do endividamento das famílias. A notícia é comemorada pelos setores produtivo e bancário, que já vislumbram dias melhores após dois anos seguidos de aperto.

Olhando para os dados macroeconômicos, o que se vê é que o crédito possui espaço para crescer. A começar pela inflação, que se encontra em patamares semelhantes aos registrados na implantação do Plano Real, em 1994. Os dados mais recentes, de agosto, mostram que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a medida oficial de inflação do País, teve alta de 2,46% no acumulado 12 meses, abaixo do piso da meta estabelecida pelo governo para este ano, de 3%. A trajetória benigna dos preços está permitindo o Banco Central (BC) reduzir a taxa básica de juros, a Selic, desde o final do ano passado. Na última reunião, no início de setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou os juros em 1 ponto percentual, para 8,25%, a sexta redução seguida da Selic.

O movimento de queda da taxa referencial do País está sendo repassado aos consumidores, segundo dados da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Em agosto, os juros praticados nas operações de crédito recuaram pelo nono mês consecutivo. A taxa para pessoa física caiu 0,04 ponto percentual no mês, na comparação mensal, e 1,07 ponto percentual em relação a agosto de 2016, para 7,54%, o menor patamar registrado desde novembro de 2015. O barateamento do crédito, junto com sinais de melhora no mercado de trabalho, está estimulando as pessoas a buscarem financiamento. Segundo a Boa Vista SCPC, a demanda subiu 1,3% em julho, na comparação com junho. No acumulado do ano, porém, a procura ainda acumula queda de 1,2%.

O varejo esfrega as mãos, após registrar uma queda 6,2% nas vendas, no ano passado, segundo o IBGE. Foi a maior contração registrada na série histórica, iniciada em 2001. O setor de eletrodomésticos, que teve um recuo de 12,6% das vendas no ano passado, vê a queda da taxa de juros como um fator essencial para sua retomada. Os primeiros sinais são animadores. No primeiro semestre, o volume de vendas cresceu 18,5% na comparação com o mesmo período de 2016, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros). "A queda dos juros está sendo fundamental para o setor eletroeletrônico, em que é indispensável ter juros adequados, porque a maior parte são compras caras", afirma Lourival Kiçula, presidente da entidade.

A mesma esperança é vista no setor automotivo. O bom cenário fez a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef) revisar para cima sua projeção de liberação de recursos para financiar a compra de veículos. Ela estima que serão concedidos R$ 90,6 bilhões neste ano, o que representa uma alta de 10,2% na comparação com o ano passado. Anteriormente, a estimativa era de um volume de R$ 86,7 bilhões, crescimento de 5,5%. "Vemos uma recuperação no mercado, em função da demanda reprimida", diz Luiz Montenegro, presidente da Anef. Com mais crédito, as vendas de veículos devem crescer. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) elevou de 4% para 7,3% a previsão de crescimento no volume de veículos licenciados neste ano.

O mercado imobiliário também aponta sinais de melhora. Após queda de 6,2%, entre janeiro e julho, num total de R$ 25 bilhões, os financiamentos ganharam força em julho, totalizando R$ 4,2 bilhões, alta de 11% em relação ao mesmo mês de 2016, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). A expectativa é de recuperação gradual nos próximos meses, encerrando o ano com expansão de 1% na concessão de crédito, totalizando R$ 117 bilhões. "Os componentes macroeconômicos apontam para um cenário melhor", diz Gilberto de Abreu Filho, presidente da Abecip.

O barateamento do crédito em curso será amenizado a partir de agora. "O Copom vê, neste momento, como adequada uma redução na magnitude da flexibilização monetária", disse Ilan Goldfajn, presidente do BC, na quinta-feira 14, durante a 14a edição do prêmio As Melhores da DINHEIRO, em São Paulo. Para muitos economistas, o BC deveria continuar com o atual ritmo. "A taxa de inflação está muito baixa", afirma Luiz Carlos Bresser-Pereira, economista e ex-ministro da Fazenda. "Acho que ela será menor que 3%." A avaliação é compartilhada pelo ministro Dyogo de Olivera. "Há espaço para uma política monetária flexível", afirmou. Com juros menores, as prestações voltarão a caber no bolso dos brasileiros.



IstoÉ Dinheiro, Ivan Ryngelblum, 22/set