Estudo da Firjan que mede o desenvolvimento socioeconômico dos municípios brasileiros pela ótica do emprego e da renda, da saúde e da educação mostrou que a recessão castigou com mais intensidade o mercado de trabalho. O desemprego derrubou o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) do Rio e impediu, no período de 2014 a 2016, a evolução do conjunto das cidades brasileiras. Segundo a Firjan, o indicador de emprego e renda só deve voltar ao patamar de 2013, ano anterior à crise, em 2027. No Rio, o desemprego subiu mais, e a capital fluminense caiu da 5ª posição para a 11ª entre 2013 e 2016. As primeiras colocadas no ranking foram Florianópolis, Curitiba e São Paulo. Ainda estão à frente do Rio capitais como Teresina e Palmas.
- Todos os centros urbanos sofreram com a crise. O Rio mais, em razão do desemprego alto causado, principalmente, pelo grande volume de demissões na construção civil (com o fim das obras de Copa e Olimpíadas), o que prejudicou o desempenho do indicador de emprego e renda - diz Jonathas Goulart, coordenador de Estudos Econômicos da Firjan.
O morador de Itaboraí e trabalhador do setor de construção civil, Lorivan Conceição de Carvalho, de 28 anos, perdeu o emprego exatamente nesse período. Depois de ser demitido de uma empresa de manutenção e montagem de andaime que ficava no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), um projeto da Petrobras, ficou dois anos desempregado:
- As empresas estavam falindo devido à Operação Lava-Jato. Só na que eu trabalhava, saíram mais de 1.200 pessoas.
Lorivan é casado com Raquel Carvalho, e pai de Lara Vitória, de 3 anos. Reclama que, este ano, não há nem trabalho temporário:
- Minha esposa fica em casa cuidando da Lara. Sobrevivemos da ajuda da família. Mas tenho esperança de voltar para a construção civil. É o que eu sei fazer.
O indicador da Firjan dá nota de 0 a 1 para cada um dos três indicadores, formando uma média geral para cada cidade. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento. Dentro dessa escala, os desempenhos são classificados como baixo (0 a 0,4), regular (0,41 a 0,6), moderado (0,61 a 0,8) e alto (0,81 a 1).
DESENVOLVIMENTO MODERADO
Segundo a pesquisa, dentre as 27 capitais brasileiras, o Rio foi a que mais perdeu posições no ranking do IFDM entre 2013 e 2016. A nota de 0,7886 mostra que o desenvolvimento humano do Rio é moderado. Nos três primeiros lugares da lista, não houve mudança. Tanto em 2015 quando em 2016, foram ocupadas, em ordem decrescente, por Florianópolis, Curitiba e São Paulo.
O IFDM geral do país voltou a crescer em 2016, em relação ao ano anterior, para 0,6678, mas, como a queda havia sido bastante acentuada em 2015 e 2014, ainda ficou próximo ao registrado em 2013.
- A partir de 2014, houve interrupção da trajetória de crescimento do desenvolvimento dos municípios. A crise custou três anos às cidades - disse Goulart, lembrando que, entre 2013 e 2016, houve retração acumulada de 6,4% do PIB brasileiro e, só em 2015 e 2016, foram fechados 3 milhões de postos de trabalho formais em todo o país.
No ranking nacional entre todas as 5.471 cidades, o Rio ficou na posição número 560 e, no estado, ocupa a 5ª posição, com IDFM 0,7886.
Em 2016, apenas 431 municípios, ou 7,8% do total pesquisado, eram considerados de alto desenvolvimento. O Sul é a região mais desenvolvida do país, com 99% dos municípios com desenvolvimento moderado ou alto, enquanto a média nacional ficou em 76%. Na outra ponta, as regiões Norte e Nordeste são as menos desenvolvidas, com mais da metade das cidades com desenvolvimento regular ou baixo. O indicador nacional para emprego e renda, que empurrou o dado nacional e do Rio para baixo, foi de apenas 0,4664 ponto em 2016 - o segundo menor para esta variável em toda a série da pesquisa, iniciada em 2005. Educação e saúde continuaram avançando, para 0,7689 e 0,7655, respectivamente. No entanto, apresentaram a menor evolução em dez anos. Todas as três variáveis têm peso igual (33,3%), no índice.
O economista e professor da FGV Rio Mauro Rochlin explica que, dos três indicadores, o mais sensível à conjuntura é o desemprego, logo, o resultado não surpreende:
- A perda do emprego diminui o bemestar. Já a saúde e a educação têm uma demanda inelástica (respondem menos aos ciclos econômicos) e onde os governos mais tendem a preservar investimentos, até por terem percentual fixo a ser gasto nessas duas áreas.
Sobre a projeção da Firjan que vê a necessidade de quase uma década para recuperar o indicador de emprego e renda, ele diz que essa recuperação é lenta mesmo, impossível de acontecer a curto prazo:
- Em toda saída de recessão, o emprego informal tende a puxar a retomada, mas paga salários baixos. Então, a renda média vai demorar a subir.