sexta-feira, 29 de junho de 2018
Rio cai de 5º para 11º em bem-estar
Estudo da Firjan que mede o desenvolvimento socioeconômico dos municípios brasileiros pela ótica do emprego e da renda, da saúde e da educação mostrou que a recessão castigou com mais intensidade o mercado de trabalho. O desemprego derrubou o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) do Rio e impediu, no período de 2014 a 2016, a evolução do conjunto das cidades brasileiras. Segundo a Firjan, o indicador de emprego e renda só deve voltar ao patamar de 2013, ano anterior à crise, em 2027. No Rio, o desemprego subiu mais, e a capital fluminense caiu da 5ª posição para a 11ª entre 2013 e 2016. As primeiras colocadas no ranking foram Florianópolis, Curitiba e São Paulo. Ainda estão à frente do Rio capitais como Teresina e Palmas.
- Todos os centros urbanos sofreram com a crise. O Rio mais, em razão do desemprego alto causado, principalmente, pelo grande volume de demissões na construção civil (com o fim das obras de Copa e Olimpíadas), o que prejudicou o desempenho do indicador de emprego e renda - diz Jonathas Goulart, coordenador de Estudos Econômicos da Firjan.
O morador de Itaboraí e trabalhador do setor de construção civil, Lorivan Conceição de Carvalho, de 28 anos, perdeu o emprego exatamente nesse período. Depois de ser demitido de uma empresa de manutenção e montagem de andaime que ficava no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), um projeto da Petrobras, ficou dois anos desempregado:
- As empresas estavam falindo devido à Operação Lava-Jato. Só na que eu trabalhava, saíram mais de 1.200 pessoas.
Lorivan é casado com Raquel Carvalho, e pai de Lara Vitória, de 3 anos. Reclama que, este ano, não há nem trabalho temporário:
- Minha esposa fica em casa cuidando da Lara. Sobrevivemos da ajuda da família. Mas tenho esperança de voltar para a construção civil. É o que eu sei fazer.
O indicador da Firjan dá nota de 0 a 1 para cada um dos três indicadores, formando uma média geral para cada cidade. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento. Dentro dessa escala, os desempenhos são classificados como baixo (0 a 0,4), regular (0,41 a 0,6), moderado (0,61 a 0,8) e alto (0,81 a 1).
DESENVOLVIMENTO MODERADO
Segundo a pesquisa, dentre as 27 capitais brasileiras, o Rio foi a que mais perdeu posições no ranking do IFDM entre 2013 e 2016. A nota de 0,7886 mostra que o desenvolvimento humano do Rio é moderado. Nos três primeiros lugares da lista, não houve mudança. Tanto em 2015 quando em 2016, foram ocupadas, em ordem decrescente, por Florianópolis, Curitiba e São Paulo.
O IFDM geral do país voltou a crescer em 2016, em relação ao ano anterior, para 0,6678, mas, como a queda havia sido bastante acentuada em 2015 e 2014, ainda ficou próximo ao registrado em 2013.
- A partir de 2014, houve interrupção da trajetória de crescimento do desenvolvimento dos municípios. A crise custou três anos às cidades - disse Goulart, lembrando que, entre 2013 e 2016, houve retração acumulada de 6,4% do PIB brasileiro e, só em 2015 e 2016, foram fechados 3 milhões de postos de trabalho formais em todo o país.
No ranking nacional entre todas as 5.471 cidades, o Rio ficou na posição número 560 e, no estado, ocupa a 5ª posição, com IDFM 0,7886.
Em 2016, apenas 431 municípios, ou 7,8% do total pesquisado, eram considerados de alto desenvolvimento. O Sul é a região mais desenvolvida do país, com 99% dos municípios com desenvolvimento moderado ou alto, enquanto a média nacional ficou em 76%. Na outra ponta, as regiões Norte e Nordeste são as menos desenvolvidas, com mais da metade das cidades com desenvolvimento regular ou baixo. O indicador nacional para emprego e renda, que empurrou o dado nacional e do Rio para baixo, foi de apenas 0,4664 ponto em 2016 - o segundo menor para esta variável em toda a série da pesquisa, iniciada em 2005. Educação e saúde continuaram avançando, para 0,7689 e 0,7655, respectivamente. No entanto, apresentaram a menor evolução em dez anos. Todas as três variáveis têm peso igual (33,3%), no índice.
O economista e professor da FGV Rio Mauro Rochlin explica que, dos três indicadores, o mais sensível à conjuntura é o desemprego, logo, o resultado não surpreende:
- A perda do emprego diminui o bemestar. Já a saúde e a educação têm uma demanda inelástica (respondem menos aos ciclos econômicos) e onde os governos mais tendem a preservar investimentos, até por terem percentual fixo a ser gasto nessas duas áreas.
Sobre a projeção da Firjan que vê a necessidade de quase uma década para recuperar o indicador de emprego e renda, ele diz que essa recuperação é lenta mesmo, impossível de acontecer a curto prazo:
- Em toda saída de recessão, o emprego informal tende a puxar a retomada, mas paga salários baixos. Então, a renda média vai demorar a subir.
O Globo, Daiane Costa, 29/jun
quinta-feira, 28 de junho de 2018
No caminho certo contra a crise
O Brasil parece sufocado por más notícias, e esperamos que nossa Seleção quebre essa onda conquistando a Copa do Mundo da Rússia. Mas o Rio de Janeiro já tem motivos para respirar um pouco mais aliviado, mesmo sem esperar o resultado do futebol: depois de 21 meses de atrasos, o estado colocou em dia os salários dos servidores, acabando com um dos aspectos mais cruéis da crise fiscal.
Se é um erro acreditar que os períodos de abundância são eternos, igualmente errado é dobrar-se às dificuldades. Mesmo as que parecem não ter conserto. Com união, trabalho, humildade e persistência, estamos conseguindo deixar para trás a etapa mais crítica em relação aos desafios econômicos do estado. Minha grande ambição é deixar a casa arrumada, o que parecia impossível um ano atrás. E tenho trabalhado incansavelmente para isso.
A decisão de aderir ao inédito Regime de Recuperação Fiscal marcou o ponto de virada no jogo. Conseguimos o mais importante: pagar aos servidores em dia e quitar o 13º de 2016 e 2017. Nada me angustiava mais do que não ter garantias de que o funcionalismo receberia sem atrasos. Afinal, são esses trabalhadores que tanto se empenham e se empenharam para atender a população fluminense.
Além disso, com o esforço de gestão para aumentar as receitas e melhorar a eficiência administrativa, associado à recuperação gradativa do preço do barril de petróleo, o percentual das despesas com a folha de pessoal vem gradualmente ajustando-se rumo ao que estabelece a Lei de Responsabilidade Fiscal. Esse índice já chegou a 62% e desceu para 55%. Nesse ritmo, logo alcançaremos os 49% que determina a legislação.
Garantir tranquilidade financeira na largada do próximo governo que a população do Rio de Janeiro eleger democraticamente é uma das minhas principais metas. Não será razoável o futuro governador assumir já com as contas bloqueadas, o que aconteceu com minha administração por quase 50 dias. No pior momento, bancos internacionais que têm negócios com o Rio chegaram a nos comparar com países em situação de guerra.
Organizar as finanças nunca deve ser um objetivo em si mesmo. O foco de todo bom governante tem de estar na população. Saúde financeira é meio, não fim. As coisas precisam estar organizadas exatamente para podermos prestar melhores serviços e realizar os investimentos necessários, ainda mais num país como o nosso, com tantas desigualdades injustas e demandas justas, principalmente dos que mais precisam.
É para isso que continuamos trabalhando, com a retomada de projetos e ações que tinham sido suspensos por causa da crise e acelerando aqueles não afetados. Um bom exemplo são as obras da Cedae de R$ 3,4 bilhões, que vão atingir 2,2 milhões de pessoas, para universalizar o fornecimento de água na Baixada Fluminense, região que ainda sofre com graves problemas de abastecimento. Em maio, inauguramos o novo sistema de abastecimento de Cabuçu Baixo, em Nova Iguaçu. E está prevista até o fim do ano a entrega de obras de ampliação do sistema em outras áreas de Nova Iguaçu, além de Duque de Caxias e Queimados. Também já iniciamos a construção da nova estação de tratamento do Guandu, o Novo Guandu.
O estado ainda enfrenta muitos desafios e o processo de recuperação é lento, mas os resultados já visíveis após a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal indicam que não há dificuldade que não possa ser enfrentada com união e esforço coletivos. O limite para as diferenças partidárias deve ser o bem-estar da população. É natural e legítimo que os diferentes grupos políticos tenham distintas ideias do que fazer com o país. Mas é obrigatório buscar um terreno comum de ação e entendimento para o bem coletivo, como estamos fazendo no Rio.
Luiz Fernando Pezão é governador do Rio
O Globo, Opinião, Luiz Fernando Pezão, 28/jun
terça-feira, 26 de junho de 2018
Sem previsão de novos edifícios, nível de vacância deve seguir estável no Rio
Sem entregas previstas para os próximos dois ou três anos, o mercado carioca de imóveis corporativos de alto padrão deve conseguir manter o nível de vacância estável até o fim de 2018. O preço do metro quadrado também não deve mostrar grandes variações, com exceção de regiões com alto volume de edifícios vagos, como a do Porto Maravilha.
Diferente de São Paulo (SP), que tem uma economia mais pulverizada, a dependência do mercado carioca em poucos setores, como o de óleo e gás, acabam retardando a retomada do setor. De acordo com dados da consultoria imobiliária Cushman & Wakefield, em maio, o segmento apresentou vacância de 40%, o que representa uma queda de 0,4 ponto percentual (p.p), na comparação com o mês anterior.
Apesar da redução, o gerente sênior de pesquisa e inteligência de mercado para América do Sul da consultoria, Jadson Mendes Andrade, acredita que até o final de 2018, o indicador ainda deve ficar próximo a este nível.
"A vacância vai continuar alta, mas o ponto positivo é que não há entregas previstas para 2018 e 2019. Isso é o que poderia piorar o mercado", destaca o executivo.
O preço do metro quadrado (m²) para locação, no mês de maio, teve uma queda de 1%, atingindo R$ 108. Para Andrade, a projeção é que os valores fiquem relativamente estáveis até o fim do ano, com a possibilidade de uma leve queda. As exceções serão as regiões com taxas de vacância em níveis exacerbados, como a do Porto Maravilha, que está em 84,7%. "Essas reduções não afetam tanto a média, já que o inventário desses locais representam um volume de oferta muito menor", diz. Na opinião de Andrade, o mercado neste ano deverá ficar marcado por uma forte concorrência entre os edifícios bem localizados.
"Como no Porto a vacância está alta ainda haverá uma briga forte com o centro que tem maior volume de oferta", diz.Entre os imóveis de alto padrão na região do Porto, a estratégia seguirá focada em preços mais agressivos para conseguir atrair novas empresas para o local. Já nos imóveis do Centro, onde a vacância está em patamares mais baixos (29,2%), os proprietários ou gestores deverão apostar na melhoria dos edifícios e não na redução de preços."
Como são de alto padrão, não é necessário um retrofit, mas eles podem fazer melhorias pequenas que para o inquilino fazem a diferença", comenta. Entre elas, a melhora da qualidade do administrador, alterações no layout da laje ou dos elevadores e maior oferta de serviços.Novo ciclo Esta concessão de benefícios, no entanto, não ficará para sempre.
A CBRE, empresa de consultoria e gestão de imóveis, calcula que as entregas devem ficar perto de zero nos próximos três anos, beneficiando a absorção do inventário existente. Este fator somado à leve melhora na taxa de vacância, devem fazer com que os proprietários sejam menos flexíveis na negociação. "Nos últimos anos os proprietários ofereceram benefícios para atrair o inquilino, como o investimento em obras e o período de carência. Agora vimos uma pequena redução da carência como reflexo de novas transações e melhora da atividade", explicou o diretor regional da CBRE no Rio de Janeiro, Alberto Robalinho.
Segundo ele, só passada essa fase de redução de benefícios - que ocorrerá ao longo de 2018 - será possível ter espaço para aumento de preços. Mesmo no centro, onde há uma vacância menor, o executivo não acredita que seja possível um aumento de preço em 2018. Enquanto isso, ele destaca que esse cenário de menor flexibilidade da negociação pode acelerar o movimento de flight to quality (voo para a qualidade, na tradução livre do inglês), ou seja, quando um inquilino vai de um imóvel mais antigo para um de alo padrão. "Como esse ano vemos uma possível melhora de mercado, haverá um movimento forte [de transações] na expectativa de que essa possa ser a última oportunidade de conseguir mudar de prédio com uma boa negociação", destaca.
DCI, Vivian Ito, 26/jun
segunda-feira, 25 de junho de 2018
Dívida antiga do condomínio pode recair sobre os condôminos
A dívida de um condomínio pode ser cobrada de seus condôminos, mesmo dos proprietários que compraram seus imóveis num momento posterior ao reconhecimento do débito e ainda que as moradias seja consideradas bens de família. O entendimento é da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O caso envolveu o morador de um condomínio que recorreu à Justiça contra a penhora de seu apartamento, o que garantiria o pagamento de uma dívida condominial.
Extra, Ganhe Mais, 23/jun
quinta-feira, 21 de junho de 2018
O preço de morar no Rio
Inflados em anos recentes, os valores do mercado imobiliário no Rio caíram 4,71% nos últimos doze meses. Esse é um dos dados do Índice FipeZap, indicador de preços de imóveis anunciados, obtidos através de pesquisa feita em vinte municípios brasileiros. Trata-se de um recuo modesto, comparado a aumentos no período de euforia alimentado por grandes eventos, como a Olimpíada de 2016. A mesma pesquisa revela ainda que o custo médio do metro quadrado na cidade, 9.596 reais, é o mais alto do Brasil. Urca, Leme e Lagoa são os bairros que apresentaram maior queda - entre agosto de 2017 e maio de 2018, a variação, para baixo, foi de 7%. O Leblon, onde as ofertas baratearam apenas 2% no mesmo espaço de tempo, é o bairro carioca em que se cobra mais caro pelo metro quadrado: 20.678 reais, quase dez vezes o preço praticado na Pavuna, a lanterna nessa lista (2.279 reais).
Veja Rio, Histórias Cariocas, 20/jun
quarta-feira, 20 de junho de 2018
Tombo global nas Bolsas
A escalada das ameaças de uma guerra comercial entre Estados Unidos e China provocou ontem um baque nos principais mercados globais. Os investidores ficaram preocupados com a nova ameaça de Donald Trump, na noite de segunda-feira, de sobretaxar em 10% importações chinesas no montante de US$ 200 bilhões, valor que pode dobrar se Pequim retaliar. As perdas mais significativas foram nos índices acionários da China: o Shenzhen Composite desabou 5,77%. Esses mercados não haviam funcionado na véspera devido a um feriado, não tendo refletido ainda, portanto, o anúncio de sexta-feira, de tarifas extras sobre US$ 50 bilhões em produtos chineses - que Pequim decidiu retaliar no mesmo montante. Em Nova York, o índice Dow Jones perdeu 1,15% e anulou todo o ganho acumulado no ano, estando agora em território negativo. No Brasil, por fatores internos, o Ibovespa foi exceção: subiu 2,26%.
Uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo terá efeitos em todos os países. Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), ressalta que as medidas protecionistas de Donald Trump tendem a frear a economia chinesa - que tem nas exportações um de seus pilares - e desacelerar o crescimento mundial. Com a menor demanda por commodities (matérias-primas) por parte da China, os preços no mercado internacional devem cair, reduzindo os embarques brasileiros ao exterior, tanto em volume como em valor.
Por isso, Langoni ressalta que o Brasil tem mais a perder do que a ganhar com a disputa entre EUA e China:
- O que o Brasil pode ganhar na margem, com uma eventual substituição de produtos americanos a serem barrados pelos chineses, é anulado pela desaceleração do comércio mundial e do próprio crescimento chinês.
PREÇOS FUTUROS DA SOJA RECUAM
A China é o maior parceiro comercial do Brasil. De janeiro a maio deste ano, exportamos US$ 24 bilhões para o país asiático - um quarto do total. Além disso, a balança comercial com a China é favorável, ou seja, superavitária. Já os EUA responderam por 11% de nossas exportações até maio, e os embarques (US$ 10,4 bilhões) são inferiores às importações (US$ 11,4 bilhões).
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), também cita como risco para o Brasil a queda nos preços das commodities:
- O Brasil perde porque guerra comercial é protecionismo, que reduz o comércio, reduz demanda, as commodities caem de preço, e o Brasil fica mais enfraquecido. A consequência natural é uma queda (nos preços) das commoditi-
es, e o Brasil não tem como se defender disso - destaca Castro, lembrando que as vendas de soja representam cerca de 13% da pauta exportadora brasileira.
E foi justamente a soja que derrubou ontem os mercados de futuros agrícolas nos EUA. Os contratos de soja para novembro desabaram 7,2%, para US$ 8,645 pelo bushel, o menor preço desde março de 2016, segundo a Bloomberg. A soja é o principal produto americano exportado para a China. Desde o fim de maio, a indústria de soja dos EUA perdeu US$ 6 bilhões. Rich Nelson, estrategista-chefe da corretora Allendale, disse à Bloomberg que "os operadores estão no modo pânico".
- Os preços da soja estão caindo como resultado direto dessa disputa comercial - disse à Bloomberg John Heisdorffer, presidente da Associação Americana de Soja. - Temos procurado seguidamente o governo Trump, implorando para que eles ouçam o nosso lado da história.
Langoni lembra que o Brasil já atravessa uma fase de grandes incertezas, com um cenário político nebuloso para as eleições de outubro e uma forte pressão sobre o câmbio, devido à política do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) de elevar a taxa de juros, o que atrai capital para o mercado americano:
- Se de fato essa guerra comercial se intensificar, a recuperação econômica brasileira, que já está lenta, pode ser afetada.
Langoni enfatiza ainda que, sem o papel "ativo e colaborativo" dos EUA, a Organização Mundial do Comércio (OMC), que tem os americanos entre seus fundadores, está ameaçada. A expansão do comércio global foi uma das alavancas do crescimento dos países. Pela primeira vez em muitos anos, diz o economista, há uma expansão sincronizada: países que representam mais de 80% do PIB mundial estão crescendo. Um ciclo que pode ser abalado.
Castro, da AEB, lembra que a briga entre EUA e China deve agravar o cenário para as exportações brasileiras, que já sofreriam este ano por causa da crise na Argentina. Na última projeção, divulgada em dezembro, a entidade estimava para este ano crescimento de 1,1%, para US$ 218 bilhões, das vendas para o exterior. Agora, Castro já espera desempenho negativo.
- Não sabemos quanto, mas que vai cair, vai - afirma o especialista, que divulgará em julho a revisão das contas para o comércio exterior. - Tem uma série de fatores. A Argentina deve impactar as exportações, a economia deve crescer bem menos do que se esperava no início do ano. A taxa de câmbio também influencia.
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, considera que a escalada da tensão comercial "só vai atrapalhar o país":
- Para mim, a atitude do Trump é muito prejudicial ao agronegócio.
Outro efeito, para o Brasil, da disputa entre as duas maiores economias do mundo é uma possível invasão de produtos chineses, que teriam por destino original o mercado americano. Além disso, os produtos brasileiros terão de brigar por espaço com as exportações da China.
- Supondo que a produção chinesa não diminuirá, a tendência é que eles sejam mais agressivos comercialmente em outros mercados - afirma um membro da equipe econômica, sob condição de anonimato. - A União Europeia, no caso do aço, já tratou de fechar seu mercado, temendo esse efeito.
CONSEQUÊNCIAS TAMBÉM NA AMÉRICA LATINA
Apesar desse cenário, a tendência do governo brasileiro é não entrar em rota de colisão com os Estados Unidos. Isso porque Michel Temer está em fim de mandato. Além disso, os técnicos sabem que o poder de pressão do país é baixo.
Outros países da América Latina serão afetados pela briga comercial. Para Ángel Melguizo, chefe da América Latina do Centro de Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o acirramento do conflito pode ter impacto no crescimento da região:
- A depender das medidas adotadas, há um impacto potencial de 0,5 ponto a 1 ponto percentual do PIB.
Segundo Melguizo, a OCDE ainda não tem um estudo específico sobre os impactos das medidas recentes tomadas por EUA e China.
- Já estamos há alguns anos alertando sobre o uso de medidas protecionistas. Mas o importante é que a América Latina não está seguindo esses passos. Pelo contrário, colocou mais medidas de liberalização entre os vizinhos - diz Melguizo, citando as conversas entre Mercosul e Aliança do Pacífico. *A repórter viajou a convite do Santander
O Globo, Economia, 20/jun
terça-feira, 19 de junho de 2018
Esplendor recuperado
Depois de 18 meses de restauração, a Biblioteca Nacional, no Centro, reconquistou todas as suas características originais: ontem, foram retirados os últimos tapumes que cercavam o prédio, construído em 1910 na antiga Avenida Central, hoje Rio Branco. A obra custou R$ 10,7 milhões e foi financiada pelo Fundo Nacional de Cultura.
- Fazer o prédio retomar seu esplendor é muito importante para nós. É a cidade dialogando com a sua história - disse Helena Severo, presidente da Biblioteca Nacional. Parte do interior da biblioteca: trabalhos duraram 18 meses
Durante a restauração, foram feitos reparos nas 285 janelas de madeira da biblioteca, que nunca haviam passado por conserto. O trabalho, que incluiu a pintura e a limpeza da cúpula, reservou uma surpresa.
- Também recuperamos as três portas da entrada. Removemos várias camadas de tinta preta, e acabamos descobrindo que elas são de bronze - contou Luiz Antônio Lopes de Souza, arquiteto responsável pela obra.
O prédio da Biblioteca Nacional já passou por três reformas, mas agora, pela primeira vez, foi usada uma técnica de pigmentação mineral que devolveu ao imóvel suas cores originais: ocre, verde e amarelo claro.
O Globo, Rio, 19/jun
segunda-feira, 18 de junho de 2018
O tempo do Brasil
Amanhã, quando o ponteiro do relógio marcar 15h, horário de Brasília, a seleção entra em campo em Rostov-on-Don, cidade russa de 1,1 milhão de habitantes, em partida contra a Suíça, começando um novo ciclo astral em que a cada quatro anos, período entre duas Copas do Mundo, o planeta perde-se em sessões macunaímicas de futebol, onde o Brasil reina pela sua mestiçagem e ginga singular, verdadeiro povo novo que é sobre a face da Terra.
Falamos sobre ponteiro, mas a hora certa oficial do país é organizada em função de um horário internacional, vinculado a um fuso específico, referencial, onde ficam as ilhas britânicas, Portugal, o Arquipélago da Madeira e países setentrionais-ocidentais do continente africano, em linha que passa por Marrocos, Mali, até entrar em parte do Benim e seguir ao Polo Sul.
Esse fuso central, que firma os outros 23, dividindo o globo terrestre em 24 ângulos de 15 graus, organiza os tempos civis do mundo e é chamado UTC, ou Universal Time Coordinated, ou Tempo Universal Coordenado, ocupando Brasília a posição ocidental a três fusos de distância deste, portanto o tempo oficial do Brasil é o UTC -3, ou seja, quando são 12h no UTC zero, aqui são 9h.
Antes era chamado de Tempo Médio de Greenwich, ou Greenwich Mean Time, ou GMT, cuja referência, o meridiano de mesmo nome, separando Ocidente do Oriente, na divisão do mundo pelo Império Britânico, pois tempo também é uma escala político-ideológica. Assim, abandonou o protetorado da monarquia e seu tempo regulado astronomicamente, e passamos a ficar organizados em função da pulsação atômica de relógios baseados em césio.
A divisão do planeta em faixas de 15 graus significam, na linha do Equador, largura de cerca de 1.667 quilômetros. Nas latitudes mais elevadas, essas larguras se reduzem por causa da circunferência do planeta, e, assim, os fusos são mais estreitos quanto mais próximos dos polos, portanto os horários diferentes também mais próximos. Na latitude de Moscou, 55º Norte, em cerca de 1.069 quilômetros muda-se de hora, numa economia de 598 quilômetros em relação à linha imaginária que divide a Terra entre Norte e Sul.
As divisões dos horários são seguem a simples geometria euclidiana, mas também fatores geográficos e políticos. Também podemos compreender a largura das dimensões brasileiras e a decisão política de colocar as regiões costeiras, onde se concentra a população dentro do horário do planalto central, organizando o país em quase dois fusos horários não fosse o arquipélago de Fernando de Noronha e o Acre, que têm fusos dedicados, totalizando quatro.
Mas, se horário é uma abstração, tempo é o recurso mais valioso que há, contudo jogamos com ele de forma jocosa, como fazemos com a bola, mas desta vez estamos dentro dela.
Apenas o Rio de Janeiro concluiu as obras de mobilidade previstas como legado da Copa do Mundo do Brasil a tempo para o evento em 2014, quando terminou a Transcarioca. Todas as outras 11 cidades-sedes não entregaram no prazo soluções que deveriam poupar tempo de vida das pessoas nas aglomerações urbanas do país. Mesmo com a assinatura da Matriz de Responsabilidade da Copa pelos prefeitos dessas capitais ainda em 2010, até hoje, passados oito anos, os projetos não foram concluídos. São Paulo, Salvador, Belo Horizonte e Curitiba estão mais próximas da conclusão com previsão para o primeiro semestre de 2019. Já Manaus, Cuiabá, Fortaleza, Brasília, Recife, Porto Alegre e Natal estão com obras atrasadíssimas ou até mesmo abandonadas. O caso do VLT da capital do Mato Grosso é famoso com seu custo bilionário, e sequer chegou à metade do desenvolvimento.
Não podemos esquecer que, com o objetivo de "acelerar" as obras para a Copa, o governo federal fez o Regime Diferenciado de Contratação, em 2011, ou há sete anos, para permitir que as obras incorporassem e controlassem as etapas de estudos e projetos técnicos, numa visão falaciosa de que a construção, ao dominar o planejamento, acelera a realização. Empreiteiras gostaram. Políticos municiais e estaduais, responsáveis pelas licitações e fiscalizações, gostaram.
A "Copa das Copas" prometia ser um sucesso. Foi o que foi. E as prisões hoje estão cheias de relógios caros, e os brasileiros nas principais regiões metropolitanas continuam a experimentar fusos horários infinitos para ir da casa para o trabalho e para retornar, não tendo tempo de vida para estudar, namorar, ir ao teatro, ao cinema, ler, beijar os filhos ou empreender. Também estão em prisões junto com seus algozes, mas alguns deles contam com o gozo de tornozeleiras eletrônicas e TVs de muitas polegadas.
Que nossa seleção saia vitoriosa amanhã e sempre, até o final, e ganhe o caneco, para que a alegria do futebol contagie a todos, mas especialmente aqueles que mais sofrem, fazendo o tempo menor, parado no ar com o grito, e os inspire para vencer as dificuldades. E, se não der o hexa, haverá ainda este ano outra oportunidade de ganhar tempo, votando bem e se lembrando de quatro anos atrás e daqueles que não entregaram o prometido.
O Globo, Artigo, Washington Fajardo, 16/jun
sexta-feira, 15 de junho de 2018
Construtoras buscam retomar expansão
Após paralisação de canteiros de obras e queda nas vendas ao longo de maio - mês que concentrou a greve dos trabalhadores da construção em São Paulo e o protesto dos caminhoneiros em todo o País -, as incorporadoras buscam recuperar o tempo perdido e manter a trajetória de expansão dos negócios vista nos meses anteriores, disseram empresários, na segunda-feira, 11, à noite, durante a entrega do prêmio Top Imobiliário, realizado pelo Grupo Estado.
A 25.ª edição do evento teve como vencedoras as empresas Tenda e Lopes. O evento tem parceria do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP) e da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp).
No mês passado, por cerca de cinco dias, a Cury, parceira da Cyrela no mercado imobiliário de baixa renda, chegou a ter 80% dos canteiros parados. No fim de semana da greve dos caminhoneiros, as vendas caíram pela metade, conta o vice-presidente, Fábio Curi, que assumirá a empresa familiar em breve. "A situação já está normalizada, mas esse processo não é rápido", pondera, lembrando que a efetivação das vendas depende de agendamentos de visitas.
Na Eztec, incorporadora que atua no ramo de imóveis de médio e alto padrão, o tempo perdido com as paralisações dos canteiros totaliza três semanas, explica o diretor de relações com investidores, Emílio Fugazza. Esse período engloba as paradas de obras e o tempo necessário para reposição de insumos, como concreto e massas, que não são estocados.
Como consequência, a companhia espera um balanço mais fraco no trimestre, já que as receitas do setor são contabilizadas de acordo com a evolução das obras. "Vamos ter um impacto de três semanas de um total de 12 semanas no balanço do trimestre", aponta Fugazza, além da redução das vendas pela metade durante o ápice da greve.
Já o diretor de incorporação da Tegra (antiga Brookfield), João Mendes, conta que a empresa conseguiu ultrapassar o mês de maio com paradas apenas pontuais, que não comprometeram as projeções para o ano. Entre maio e o início de junho, a companhia conseguiu, ate mesmo, lançar dois empreendimentos em Campinas, com cerca de 30% das unidades vendidas. "Continuamos com a meta de lançar empreendimentos que somam R$ 1,3 bilhão em valor geral de vendas. Neste mês, vamos atingir R$ 500 milhões", afirma.
Exame.com, Circe Bonatelli, 13/jun
quinta-feira, 14 de junho de 2018
A disparada dos imóveis
Sexta maior economia da União Europeia, a Holanda tem apresentado uma expansão expressiva. Em 2017, sua economia cresceu 3,2%, e a previsão é que o ritmo se mantenha em 2018. O desemprego vem caindo e chegou a apenas 3,9% em abril. Com o aquecimento da economia, no entretanto, surgem novos problemas. Um deles é o aumento dos preços dos imóveis, especialmente na capital Amsterdã. Desde 2013, o valor das residências subiu 20% no país. Nem relatório recente, o Fundo Monetário Internacional afirma que o aumento preocupa porque o nível de endividamento das famílias é um dos maiores da Europa, e sugere que o governo tome medidas para reduzir os riscos.
Exame, Visão Global, 14/jun
quarta-feira, 13 de junho de 2018
O liberou geral da Prefeitura do Rio
Com os cofres tão vazios que já estão quase dando eco, a Prefeitura do Rio quer criar um novo artifício urbanístico só para arrecadar algumas patacas extras.
Depois da "mais valia" - recurso usado para regularizar o que foi construído em desacordo com a legislação - pretende pôr na rua o "mais valerá".
Mandou um projeto para a Câmara prevendo que - mediante pagamento, claro! - o contribuinte carioca estaria previamente autorizado a burlar a lei.
Quem quiser construir um puxadinho onde não pode ou cobrir um terraço no prédio que já está na altura máxima - e tiver dinheiro para pagar por isso - ganharia carta branca.
É pegar ou largar. O prazo previsto no texto é de 90 dias, prorrogáveis por mais 90.
Extra, Berenice Seara, 13/jun
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