sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Próxima parada: Nova York


O desejo de viver ou investir no topo do mundo atiça sua imaginação? Está em dúvida entre aquele apartamento de fim de semana no Leblon ou um estúdio no Upper East Side? Então prepare as malas e o passaporte. Seu dinheiro renderá mais entre os rios Hudson e East, que banham Manhattan, do que pegando um bronze na orla carioca. Quem garante isso é o economista niteroiense Robson Lemos, expert em vender imóveis em Manhattan - são mais de 300 apartamentos, além de 200 prédios comercializados inteiros, nos últimos 20 anos. "Você vai pagar mais caro, mas terá uma taxa de retorno de 3,5% a 5% ao ano", afirma. "Você consegue isso nos Jardins ou em Ipanema?", desafia. 

Contratado da Corcoran Real State desde 1995, Lemos vem ao Brasil a cada 30 dias para mostrar oportunidades na ilha a investidores brasileiros. Gente que quer diversificar seus investimentos e que, há três anos, percebeu que atuar no mercado imobiliário americano, a despeito da crise dos subprime do fim da década passada, é menos arriscado do que se imaginava. Lemos usa como exemplo a aquisição de uma casa de US$ 3 milhões em um bairro nobre paulistano. Para ter um retorno satisfatório, seria necessário alugá-la por, no mínimo, R$ 15 mil. 

O problema é achar quem pague essa conta. "As coisas aqui ficaram caras e as pessoas já notaram que é mais fácil usar esse valor para pagar um financiamento do que um aluguel", diz ele, responsabilizando o boom do mercado nacional pela baixa rentabilidade dos imóveis de alto padrão.Com esse perfil mais sofisticado, ainda é possível encontrar bons negócios em Manhattan. A cidade, contudo, tem vivido certa escassez em imóveis abaixo de US$ 3 milhões. Segundo Lemos, existem no momento apenas quatro unidades dessa categoria à venda, de metragens reduzidas e fora dos melhores pontos da ilha. 
  
Entretanto, as oportunidades existem e a reduzida burocracia dos bancos americanos auxilia na hora da compra. "Vendi um estúdio de US$ 550 mil no Chelsea a um brasileiro que tirou apenas US$ 110 mil de seu plano de aposentadoria", afirma Lemos. "O restante foi pago pelo aluguel que o inquilino, que já morava ali, lhe pagava mensalmente." Em pouco mais de dez anos, o comprador terá um apartamento de US$ 700 mil. Lemos diz que não há plano de previdência no País que ofereça o mesmo retorno. Na falta de bons apartamentos médios, Lemos tem focado na venda de unidades de altíssimo padrão. 

O mais elegante de seu currículo foi um no sexto andar do 525 Park Avenue, de 350m², quatro quartos, duas salas e arquitetura italiana do século 19. "Fica perto do parque, colado no The Plaza. É o melhor dos mundos", lembra ele, O negócio foi fechado em US$ 10 milhões. Entre os edifícios, ele negocia com um grupo de brasileiros a aquisição de um endereço na rua 67, entre a Madison e a Park Avenue, por R$ 11 milhões. Os apartamentos estão alugados e já renderam cerca de 4% ao mês aos investidores. Mas a ideia é promover uma reforma e vender unidade por unidade, algo que deverá atingir a cifra dos US$ 22 milhões. 
 
"O dobro do que pagarão caso façamos a venda", diz. Morador da cidade desde 1985, quando produzia shows e turnês internacionais para músicos brasileiros consagrados, como Caetano Veloso, Djavan e Nana Caymmi, Lemos identificou três zonas de expansão imobiliária da cidade. A primeira é o entorno do High Line Park, um jardim elevado sobre uma linha férrea de 1,6 km, que foi inaugurado em 2009. "O lugar virou um show­room de arquitetos internacionais famosos, com novos hotéis, restaurantes e terrenos ainda grandes para construir", diz. 

A vizinhança da Universidade Columbia, entre a 96 e 116 West, também se valorizou, graças ao nível econômico dos universitários. "E eles se mudam rapidamente, o que permite atualizar o aluguel a cada novo contrato", afirma. Por fim, os apartamentos na região das Torres Gêmeas. A área virou um grande canteiro de obras desde a tragédia do 11 de setembro e viu o valor do metro quadrado despencar. Contudo, 12 anos depois, o local está quase todo recuperado, com novos prédios comerciais, estações de metrô e boulevards. Quando tudo for entregue, o preço dos pequenos apartamentos da região irá às alturas. 
 
Não só porque ficam em Wall Street e a turma das finanças adora ir a pé ao trabalho com seus copos de café duplos, mas pelo desejo mórbido de se ver de perto o lugar atingido pelos aviões sequestrados pela Al Qaeda. "Para se ter uma ideia, o metro quadrado do Hotel W, que fica em frente, custa hoje US$ 30 mil, o mesmo valor de Park Avenue", diz Lemos. Se os atentados valorizaram as cercanias do finado World Trade Center, eles criaram também uma certa rejeição a prédios muito altos, embora imensos arranha-céus continuem a ser erguidos, como o ultra high tech 432 Park Avenue, o maior edifício das Américas, com 425 metros de altura, criado pelo arquiteto uruguaio Rafael Viñoly. No entanto, clientes da Corcoran têm pedido cada vez mais por apartamentos abaixo do décimo andar. "Eles ficaram com pavor de andares altos depois daquele ano."



IstoÉ Dinheiro, Fabiano Mazzei, 25/out