quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Transformações são oportunidade para o Rio


Mais que um desafio, a grande onda transformadora pela qual passa o Rio é uma oportunidade para a cidade e para seus habitantes. Esta é a opinião do urbanista inglês e do diplomata Alemão Thomas Matussek, que estão à frente da conferência "Urban Age: Transformações Urbanas", que acontece nesta quinta e sexta-feira no Palácio do Itamaraty. Organizado pela London School of Economics andPolitical Sciences e pela Alfred Herrhausen Society of Deutsche Bank, o encontro reunirá líderes municipais, investidores, designers, acadêmicos e ativistas para trocar experiências e discutir as transformações sociais, econômicas e urbanísticas, muitas vezes drásticas, de metrópoles como o Rio, Londres e Barcelona. Os dois acreditam que as mudanças não devem ter como prazo o início das Olimpíadas, em 2016, e que boas escolhas podem estender as transformações para além do evento, num processo que pode transformar a cidade em um bom lugar para todos os seus habitantes.

Burdett, que é diretor do LSE Cities and Urban Age, um centro internacional de pesquisas que estuda como as pessoas e as cidades interagem em um mundo em rápida urbanização, diz que o Rio, que enfrenta os mesmos problemas de outras megalópoles, tem como um dos maiores desafios gerenciar as diferenças e os problemas que surgem com a mudança.

- O que faz a sua cidade tão linda é o mesmo que faz dela uma cidade tão difícil de planejar. A topografia, por exemplo, é um problema. Em termos de paisagens, Londres é uma cidade muito entediante. E construir trens ou autoestradas para fora da cidade é muito mais difícil aqui que em Londres, que é plana. Mas em termos de engenharia, lidar com isso não custa tanto. Acho que seus BRTs, por exemplo, são bons exemplos. Mas vejo também que há desafios no campo social, muito mais do que nós temos. Ainda assim, são problemas que podem ser administrados. Você só precisa estar atento a elas. E preciso saber o que fazer com eles.

Ele cita a Rocinha e o complexo de favelas do Alemão, como exemplo. Para ele, que chama a atenção para a visibilidade que as transformações nestas comunidades ganhou mundo afora, estes espaços não devem ser extirpados, mas integrados às cidades.

- Há milhares de famílias morando ali. E cada morador tem conexões sociais. Seus pais, tios, amigos, algo que compõe uma identidade que precisa ser observada.

Neste sentido, Matussek, que hoje dirige a Alfred Herrhausen Society, uma organização sem fins lucrativos pesquisa de novas formas de governança como uma resposta para os desafios do século 21, diz que a chave para a questão está nas pessoas.

- Esta é uma discussão que tem a ver com as mudanças. Mas tem a ver também com interações entre os vários grupos que influenciam a cidade. Ao contrario da crença de algumas pessoas, não é a estrutura física que faz a cidade, mas as pessoas. Este é o motivo pelo qual nós estudamos tanto.

Eles explicam que, desde 2005, a LSC Urban Age tem estudado os indicadores de grandes cidades do mundo (além do Rio, os pesquisadores avaliam as cidades de Hamburgo, Bogotá, Barcelona, Hong Kong, Istambul, São Paulo, Bombaim, Joanesburgo, México, Londes e Nova York) e organizado conferencias em cada uma delas para discutir problemas, propor soluções e fazer com que seus líderes e atores mais importantes troquem experiência. Sobre o Rio de Janeiro, que será palco da 12ª edição do encontro, eles afirmam que a cidade é um dos melhores exemplos do que este processo de transformação é capaz.

- Um intenso processo de transformação está acontecendo nestas cidades. E qual cidade é melhor para mostrar isso que o Rio de Janeiro? O que está acontecendo na sociedade brasileira acontece sob uma lente de aumento aqui - diz Matussek.

Burdett diz ainda que a idéia da conferência é transformar o Rio em uma espécie de plataforma. Não apenas para falar de todas estas diferentes experiências, mas para aprender com cada uma delas.

- Uma coisa interessante é que o mundo todo está observando o que está acontecendo ao Porto Maravilha. O que está acontecendo ao Complexo do Alemão, o que está acontecendo na Barra da Tijuca, o que está acontecendo a áreas da Zona Norte, como Madureira. Tudo está sendo modificado em sua cidade. Este é um momento de mudanças muito excitante. Mas, o que quero dizer é que, estamos usando estas conferencias para trazer pessoas que passaram por estas experiências, algumas boas e outras ruins, pois nem tudo é perfeito, mas que podem podem ser úteis na organização deste processo - diz Burdett, frisando que o evento não tem a intenção de impor soluções ou ponto de vistas.

- O ponto é: nosso grupo não está vindo para dizer aos cariocas ou ao prefeito como fazer. Este é um painel para trocar experiências. Não viemos ao Rio para dizer aos cariocas como conduzir este processo. Não é isso. Em primeiro lugar, todos nós aprendemos muito aqui. E o segundo ponto é: por que não tirar experiencias do encontro?



O Globo, Natanael Damasceno, 24/out